Muito, e mal, se fala da televisão aberta no Brasil, dizendo que a programação é tão ruim que é melhor nem assistir, e que a solução é pagar uma TV por assinatura.
Sou de um tempo em que a televisão começava a transmitir no fim da manhã e mantinha programação até à meia-noite. Alguns canais saiam do ar mais cedo, às 22 horas. E naquela época não se podia fazer muita exigência, ou escolha. Ou era, ou não. Todos nós assistíamos os mesmos seriados, as mesmas novelas, os mesmos noticiários, os mesmos humoristas. Não cabe avaliar se era bom, ou não, mas destacar que a realidade era outra.
Atualmente as TVs transmitem ininterruptamente, e disputam um mercado de telespectadores cada vez mais segmentado e (por que não dizer?) burro.
Fico surpreso ao perceber que quanto mais condições tecnológicas e de conhecimento se tem, menos qualidade se exige nos conteúdos dos programas.
Exemplifico meu espanto: dia desses estava assistindo uma sessão de “controle remoto” entre as dezenas de canais de uma TV por assinatura e fui brindado com uma conversa entre duas mulheres (uma delas parecia ser jornalista, pois comandava a entrevista), e a outra, sinceramente não faço ideia de quem era e, confesso, fiquei sem vontade nenhuma de saber... O canal era a GNT.
A entrevistada estava no Canadá e se gabava de morar num país civilizado onde “os motoristas não atropela as pessoas nas ruas”. Conversa vai, conversa vem (as duas andando nas ruas), começam a falar de banheiro, e tivemos que ser forçados a ouvir a seguinte conversa:
-Eu não dou descarga em banheiro público com as mãos. Eu aperto com o pé assim, ó! (E gestualmente mostra a delicadeza de como dá descarga).
A repórter pergunta:
- Mas você lava as mãos?
- Não, porque na verdade em não pego em nada. Eu tenho horror de torneiras e de maçanetas. Eu não pego nem na...
- Então você não põe a mão na xoxota?
- (risos) Não.
- Eu geralmente faço um exercício mental na hora de fazer xixi em banheiro público. Faço de conta que estou treinando minhas pernas e fico assim, sem encostar no vaso... (Mostra a posição)
Mudei de canal e dei uma passada no Discovery Channel, que apresentava suas atrações diárias. A cena é insólita: Um homem de costas para a câmera, com uma mulher agachada ao seu lado dizendo:
- Eu tenho que beber seu mijo? (Corte para ela bebendo e fazendo uma careta) com a voz dele ao fundo: - Eu ia dividir com você. Logo depois ele aparece com um besouro gigantesco nas mãos oferecendo a ela o seu café-da-manhã; e logo depois ele sentado sem calças com as pernas abertas na frente dela dizendo que ela terá que fazer uma lavagem nele. Ela concorda.
Corta para outra atração da emissora: Em off o locutor anuncia “Nada como um café-da-manhã reforçado”. AS imagens mostram um sujeito com um inseto vivo nas mãos levando-o à boca para mastigá-lo.
Fiquei pensando: Onde eu peguei o caminho errado da evolução e não corroboro com esse tipo de produção?
E nem nacionais elas são... Será que o público gosta mesmo dessas aberrações? É normal que o homem comum goste de ver coisas estranhas e esquisitas. Dessa “normal” vontade surgiram os circos e os museus, oriundos dos “gabinetes de observação” onde muitas atrações eram fraudadas para parecerem mais estranhas ainda. Os tolos pagavam e se divertiam vendo monstruosidades da natureza e outras coisas espetaculares e mentirosas.
Pergunto para que estou pagando uma TV por assinatura se ela não me oferece muita coisa interessante, cultural, ou de entretenimento que eu possa classificar como “assistível”.
Quem são os produtores desses programas e quem são os programadores dessas televisões? Que tipo de infância eles tiveram, e que tipo de educação eles tiveram? Acho que as pessoas eram mais saudáveis quando as emissoras de televisão entravam no ar já no meio da manhã e eram desligadas durante a madrugada. Só posso responsabilizar a própria TV pela falta de orientação dessas pessoas. Que vão desorientando mais gente, que cisma em ficar à frente da TV assistindo essas “atrações”. Eu prefiro desligar a TV.
Um comentário:
Um bom livro faz toda a diferença!
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