domingo, 25 de dezembro de 2011

Ano, de novo. Mendigando mandingas.


Depois de uma semana "virada no cão" para fazer face às demandas natalinas, meio mundo se volta, agora, para as realizações do reveillon. Mais uma forçada de barra na tentativa de ser feliz por um momento, em um momento, como se a vida se baseasse nessa busca e/ou nessa conquista.
Certamente será mais uma semana pesada na tentativa de colocar tudo em ordem para viver, numa boa, a hora de ver fogos de artifícios pipocando no céu, abrir uma garrafa de qualquer coisa que estoure feito champagne, e se abraçar com familiares, amigos e gente que a gente nunca viu antes na vida, desejando sucesso, felicidade e outras coisas que a gente vive correndo atrás o ano inteiro.
De cara, a primeira preocupação é com o tempo: será que vai chover?
Grandes tolices sustentam esse ritual como se alguma coisa fosse ficar diferente só por causa dele.
Psiquicamente falando, é realmente importante, pois as pessoas tem o costume de limitar e condicionar suas ações, e a partir daí viverem suas vidas. Elas se colocam em trilhos imaginários e seguem determinados caminhos como se não pudessem mudar de rumo a qualquer instante desejado e seguir para onde bem entender. Essa "prisão" auto-imposta dá a segurança necessária para viver em paz. E o desafogo vem através de festas como essa que vivemos agora como o Natal e o Reveillon.
Uma delas era para ter um certo caráter religioso. O Natal era assim. Já foi-se o tempo disso. Hoje é apenas mais um momento de fugir do dia-a-dia comum e estafante e sem graça que vivemos, e cair na folia das compras, onde compramos bagatelas para presentear os outros, e torcemos para que ganhemos algum presente interessante, e de preferência, completamente diferente daqueles que compramos para dar.
As tradições vão perdendo força e sendo substituídas por ações sem conteúdo, e com formas cada vez mais estranhas.
Atualmente nem mais o Papai Noel tem mais o carisma que tinha há algumas décadas. Hoje é menino propaganda de consumo, e só. E já começa a aparecer na mídia em meados de setembro. 
Se a festa do Natal era religiosa, o que dizer da passagem do ano? Profanismo ecumênico puro.
Nessa hora, todo mundo resolve apelar para todos os santos possíveis e imaginários, de todas as religiões.
O importante é garantir a boa vivência da existência terrena nos próximos meses do ano novo. Vou vestir roupa dessa cor pra isso, comer não sei o que pra aquilo, dar pulinhos, ficar de costas, num pé só, rezar, gritar, fechar os olhos...
É tanta mandinga que inventam, que fico a me perguntar se realmente estamos no século 21, mundo dominado por máquinas e pela tecnologia. 
Como que tantas pessoas conseguem se enganar com tamanhas tolices vindas de tempos em que os homens precisavam se esconder em cavernas para se proteger de seus inimigos? Será que a humanidade evoluiu mesmo? Tenho minhas dúvidas.
Eu vou ficar torcendo para que o mundo continue tendo seus amanheceres todos os dias, mesmo que não signifiquem um ano novo. Quem sabe, um dia, a gente resolva comemorar apenas o fato de estarmos juntos de quem a gente gosta. Comemorar exatamente isso: estar junto e gostar. Sem necessidade de ser esse ou aquele dia. E se for para comemorar esse ou aquele dia, que façamos isso mesmo, sem deturpações comerciais, afinal de contas o mundo é mundo com suas superstições e mandingas bem antes do dinheiro existir.
Boa continuação de sua existência nos próximos dias. E que sejam muitos deles.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Neuróticos a postos



Analisando bem nossa sociedade, podemos perceber que existem, pelo menos, dois grandes grupos de pessoas: os que têm dinheiro para gastar, e os que não têm. 
O uso da possibilidade de converter em bens essa dinheirama toda é a base de uma neurose econômica que permeia nossa sede de consumo. 
Quem não tem dinheiro para gastar fica angustiado em não ter aquilo que acha necessário. 
Quem tem dinheiro para gastar fica angustiado por ter aquilo que é supérfluo. Mas o interessante é que essa angústia não é, necessariamente sentida ou vivida como negativa. Ela pode ser considerada como a felicidade na hora em que é vivida. 
Há pobres (economicamente falando) que desprezam os valores consumistas e mercantilistas que estruturam nossa sociedade. Eles escondem a angústia do não ter sentindo-se felizes, ou resignados por viverem à margem do consumismo. Outros pobres amaldiçoam a tudo e a todos por serem incapazes de consumirem.
Há ricos que retém tudo o que podem com medo de um dia perderem o poder de consumir. Eles escondem a  angústia do ter sentindo-se felizes em saber que podem.
Há ricos que gastam em tudo que podem para, somente desta forma, poderem sentir-se felizes. Consumindo.
Na verdade todas as pessoas que fazem parte desses grupos são portadores de distúrbios psicológicos causados pela sanha mercantilista e consumista que permeia nossas vidas. 
São neuróticos prontos a matar e a morrer por uma sensação de felicidade efêmera originada nessa relação com o vil metal, que hoje é cada vez mais feito de plástico.
Não há religião ou terapia que alivie ou resolva tais questões, afinal de contas essas opções contam com o uso do dinheiro para serem realizadas.
Repensar nossos vínculos emocionais com a sociedade e com suas pressões por dinheiro é um caminho a ser seguido por quem quer um pouco de paz no espírito. 
Paz que não se  encontra à venda em lugar algum.