quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Andando pra trás


Todo bom pernambucano sabe por que caçuá de caranguejo em Pernambuco não precisa de tampa: para cada um que vai subindo pra sair, tem sempre outro que o puxa pra dentro.
          Um bom exemplo do sinistro modus operandi dessa terra mauricéia é a política cultural assumida pelos nossos governantes.
          O carnaval de Pernambuco ganhou fama no Brasil por causa da diversidade de expressões típicas da época. Em cada cidade, cada bairro, cada clube, os foliões se agregam e botam pra fora suas mais incríveis manifestações de alegria.
          Aproveitando essa hiper-profusão de ritmos, danças, fantasias e tudo o mais que possa caracterizar o carnaval pernambucano, o Governo vende essa imagem do Estado como se aqui o turista fosse se divertir à beça com tanta coisa diferente pra se ver. Não chega a ser mentira, mas...
Sempre aparece um mas!
          Na hora de montar o carnaval para os pernambucanos – recifenses, em especial – há uma profusão, sim, mas de artistas e manifestações alienígenas, não só ao Estado, mas como estranhas ao carnaval.
          Artistas de nome “nacional” são contratados a peso de ouro para fazerem as festas carnavalescas dos pernambucanos. Esse ano teremos Ney Matogrosso, Seu Jorge, Beth Carvalho e Lulu Santos.
          Pra vender o Estado, o Governo passa a imagem da diversidade pernambucana, mas quem vier para ver o carnaval aqui vai encontrar esses artistas que não tem nada a ver com os frevos, maracatus, caboclinhos, ursas, troças e tudo o mais do nosso carnaval, e que, com certeza eles conhecem bem mais que nós.
          Se pararmos pra analisar bem, acaba sendo uma propaganda enganosa, afinal, qual o turista que vai sair do “sul maravilha” com o intuito de assistir um show de Lulu Santos ou Ney Matogrosso em pleno carnaval do Recife?
          Cadê as orquestras de frevo? Cadê os maracatus? Cadê os blocos líricos? Essas “atrações” não servem para fazerem apresentações nos palcos? Não é isso que o turista quer ver? Não é por causa disso que eles vêm gastar seu dinheiro aqui?
          Mas a culpa não está somente nos gabinetes dos burocratas governamentais. Ela também se encontra nos escritórios dos produtores chinfrins que só se interessam  em fechar contratos com as cervejarias e as cachaçarias multinacionais que lhes dão dinheiro em troca de “atrações nacionais”, geralmente indicadas por elas mesmas. 
          As “Virgens de Olinda” apresentam em destaque suas atrações: Grupo Molejo, É o Tchan, Calypso, Netinho (o baiano), Aviões do Forró e Garota Safada. Sem eles não haveria condições de contratar o pessoal da terra como Nono Germano, Alceu Valença, Almir Rouche, Gustavo Travassos e outros. Outros vão trazer Asa de Águia, Claudia Leite, Ivete Sangalo...
          Dessa forma as fábricas de bebidas decidem quem vêm, o que tocam, e o que é pior: o que você bebe, pois para fazer o patrocínio, eles exigem exclusividade de venda nas ruas, e os pobres vendedores se vêem impedidos de vender produtos da concorrência.
          Por um punhado de dólares nossa cultura vai pro bagaço.
          E o que começou com uma diversidade cultural, transformou-se num carnaval esquizofrênico, cheio de guetos, onde quem gosta de hip-hop, de rock, trash ou heavy metal, ou emo tem o seu palco montado para que essas pessoas não ouçam os acordes das músicas de carnaval.
Mas... não é carnaval?

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