quinta-feira, 24 de junho de 2010

A fogueira tá queimando em homenagem a São João

Não escrevo essas linhas para defender os forrós modernosos, midiaticamente chamados de cearenses, eletrônicos ou universitários, mas para questionar o tradicionalismo exigido pelos puristas de plantão.
É comum ouvirmos falar, ou ler, afirmações do tipo "festa junina tem que ter Luiz Gonzaga". Isso é tão comum quanto dizer que nessas festas não podem faltar comidas de milho, fogueiras e quadrilhas.
Que Luiz Gonzaga é sinônimo de matutice ninguém discute, afinal ele mesmo incorporou o personagem e viveu disso. 
A questão que surge é a seguinte: O que "seu" Lua ouvia nos festas juninas de sua infância? 
Como eram os são-joões antes de Luiz Gonzaga fazê-los da forma como conhecemos hoje e que querem preservar?
Não podemos empancar e impedir que as coisas mudem.
Se há exageros nessa luta pela tradição há, do outro lado, ações que forçam mudanças que, aparentemente os reclamões não se manifestam.
Por bem ou por mal, a Rede Globo de Televisão altera as quadrilhas juninas para dar a elas um aspecto mais urbano, mais cenográfico e mais vendável comercialmente.
Quadrilhas dançam ao som de forrós com enredos como as Escolas de Samba do carnaval carioca. 
E o que fazemos? Achamos lindo e damos a maior força por que assim a gente aparece na TV e ganha prêmios? 
Como me disse Zé Calixto, grande forrozeiro e sanfoneiro de 8 baixos: "Minha época já passou, mas a época dessas bandas também vai passar".
O problema é que vai ser difícil encontrar quadrilha matuta com roupas remendadas.
As de hoje já são desclassificadas se não se apresentarem na hora; afinal, tempo é dinheiro.
Já não existe mais prazer e diversão pela dança na quadrilha. Há estresse, compromissos e cobranças.
Doravante, roupas, só com muita lantejoula, paêtes, plumas, lamês e miçangas. Se brincar, vão até inventar o cargo - e o prêmio - de porta-estandarte de quadrilha.
Na rabeira vêm os de melhor padre, melhor noiva, melhor delegado...
Quero mais é que a fogueira queime esses progressos televisivos e deixe a evolução acontecer ao som dos forrós de trios pé-de-serra ou de bandas eletrônicas, mas que sejam autênticas manifestações do povo e não manipulação da mídia.

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