segunda-feira, 25 de junho de 2012

Os donos da cidade


Crônica escrita e radiofonizada em junho de 2002

Imagine que você mora numa casa alugada. Nem deve ser muito difícil. Regularmente você paga aluguel ao dono. Ele é quem se beneficia do valor pecuniário que recebe, mas é você que se beneficia do morar. Entretanto morar não significa apenas ter uma porta para abrir ou fechar na hora de sair e entrar. Significa ter um lugar que precisa ser limpo, cuidado, pintado. Você precisa não sujar, fazer aquele melhoramento para que você possa viver melhor e ter uma boa qualidade de vida.
Imagine se você esperasse que o dono do imóvel onde você mora fosse varrer ou limpar a sua casa.  Acho até que não iria dar certo.
Nossa cidade funciona da mesma forma. Só com uma pequena diferença: nós somos os donos dela. A isso se chama de coletividade.
E cada um de seus moradores e donos têm para com a cidade deveres a serem cumpridos diariamente, a todo instante.
Você não é o responsável pela limpeza, alguém fará isso por você. Ótimo. Mas você é o responsável pela sujeira urbana? É você quem joga lixo nas ruas? É você quem não procura uma lata de lixo e joga na calçada aquele papelzinho que está na sua mão? É você quem entope de lixo uma sacolinha plástica e acha que o gari é  o responsável se a sacola rasgar e o lixo derramar-se todo pelo chão?
É você  que acha que a borracharia é a única responsável pelo pneu que você acaba de deixar ali? Escolha uma que garanta que o lixo que você está deixando lá não vai ser jogado num canal.
A sociedade é complexa e múltipla. Todos nós somos responsáveis por tudo que ocorre em nossa cidade.
Se você não se acha responsável pelas favelas que proliferam nos barrancos que caem a cada chuva, responda se você faz alguma coisa para pagar melhor aquela sua empregada ou empregado e ajudá-la a sair daquela moradia.
Responda se você votou no candidato que poderia fazer alguma coisa por aquelas pessoas, ou votou naquele que proporcionaria mais vantagens para você mesmo? Como você vê, o cobertor é um só. Se puxar muito para cá, vai faltar para cobrir noutro lugar.
Se você está coberto, tente arranjar mais espaço para os outros embaixo deste cobertor. Se você está descoberto junte-se com seus vizinhos e em vez de só abrir a boca para reclamar a falta de ação dos donos da cidade, lembre-se que vocês também são donos e que já é hora de colocar os braços para agir em consonância com as palavras.
A cidade, a sociedade, eu, você e todos os outros viveremos muito melhor.  

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