Crônica escrita e radiofonizada em junho de 2002
Imagine que você mora numa casa
alugada. Nem deve ser muito difícil. Regularmente você paga aluguel ao
dono. Ele é quem se beneficia do valor
pecuniário que recebe, mas é você que se beneficia do morar. Entretanto morar
não significa apenas ter uma porta para abrir ou fechar na hora de sair e
entrar. Significa ter um lugar que precisa ser limpo, cuidado, pintado. Você
precisa não sujar, fazer aquele melhoramento para que você possa viver melhor e
ter uma boa qualidade de vida.
Imagine se você esperasse que o
dono do imóvel onde você mora fosse varrer ou limpar a sua casa. Acho até que não iria dar certo.
Nossa cidade funciona da mesma
forma. Só com uma pequena diferença: nós somos os donos dela. A isso se chama
de coletividade.
E cada um de seus moradores e
donos têm para com a cidade deveres a serem cumpridos diariamente, a todo
instante.
Você não é o responsável pela
limpeza, alguém fará isso por você. Ótimo. Mas você é o responsável pela
sujeira urbana? É você quem joga lixo nas ruas? É você quem não procura uma
lata de lixo e joga na calçada aquele papelzinho que está na sua mão? É você
quem entope de lixo uma sacolinha plástica e acha que o gari é o responsável se a sacola rasgar e o lixo
derramar-se todo pelo chão?
É você que acha que a borracharia é a única
responsável pelo pneu que você acaba de deixar ali? Escolha uma que garanta que
o lixo que você está deixando lá não vai ser jogado num canal.
A sociedade é complexa e
múltipla. Todos nós somos responsáveis por tudo que ocorre em nossa cidade.
Se você não se acha responsável
pelas favelas que proliferam nos barrancos que caem a cada chuva, responda se
você faz alguma coisa para pagar melhor aquela sua empregada ou empregado e
ajudá-la a sair daquela moradia.
Responda se você votou no
candidato que poderia fazer alguma coisa por aquelas pessoas, ou votou naquele
que proporcionaria mais vantagens para você mesmo? Como você vê, o cobertor é
um só. Se puxar muito para cá, vai faltar para cobrir noutro lugar.
Se você está coberto, tente
arranjar mais espaço para os outros embaixo deste cobertor. Se você está
descoberto junte-se com seus vizinhos e em vez de só abrir a boca para reclamar
a falta de ação dos donos da cidade, lembre-se que vocês também são donos e que
já é hora de colocar os braços para agir em consonância com as palavras.
A cidade, a sociedade, eu, você e
todos os outros viveremos muito melhor.
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