Há exatos dez anos escrevi essa crônica que era lida em um programa da Rádio Universitária AM.
Quadrilhas de São
João
O dia de São João, a 24 de junho, é o
auge dos festejos juninos, expressão máxima das manifestações folclóricas e
populares do Nordeste. A reverência religiosa foi sem dúvida o grande motivo para a origem dos festejos, porém essa tradição enfraqueceu-se com o passar dos tempos. O
capitalismo se encarregou de dar novas cores, novos formatos, e o que é pior
novos objetivos às festas juninas.
Se antes o consumo de milho e
seus derivados eram comuns por ser esta a época da colheita, hoje o consumo é
orientado pelas peças publicitárias. Se o milho for a moda , coma-se milho, se
for outra coisa... Será assim.
Se antes se dançava quadrilha por
pura diversão e socialização de seus integrantes, com trajes rotos ou com
remendos costurados por cima da roupa, com um trio pé de serra tocando, hoje o
que se vê são as produções teatrais, coreografadas, luxuosas, quase
cinematográficas com som mecânico, estéreo, e arranjos eletrônicos, alguns
feitos especialmente para a apresentação do grupo que visa o título de
quadrilha mais original , mais luxuosa, mais bonita, mais isso, mais aquilo e
um prêmio em dinheiro.
Se antes juntavam-se os amigos
para formar a quadrilha e se ensaiava durante duas ou três semanas antes do São João, hoje se marcam ensaios e formação das quadrilhas com meses de
antecedência e se contratam profissionais para cuidar do figurino, dos ensaios,
do som, etc.
É comum ver, já em setembro do
ano anterior, as quadrilhas começarem a se preparar para o São João do ano
seguinte.
Se antes os erros eram motivos de
alegria e davam o tempero da brincadeira, com integrantes chegando de última
hora e aumentando a quadrilha, hoje o erro é motivo de punição e até de
expulsão do grupo.
Os colégios, que antes estimulavam
essas manifestações, hoje deixam a iniciativa aos próprios alunos. Se eles
quiserem que se responsabilizem pela organização. Os professores só trabalham a
quadrilha com os pequeninos da primeira a quarta série. Será isso suficiente
para que as tradições permaneçam? Não, não é e podemos observar isso.
Alguma coisa está errada, e nada
está sendo feito para evitar a deturpação dessa manifestação. Parece inclusive
que os governantes que cuidam da cultura primam por comercializar o evento em
forma de grande produção, de espetáculo para turista vir, ver e deixar um
bocado de dinheiro, que aliás parece ser a única coisa que interessa.
Se tudo der certo então, breve
será construído um quadrilhódromo para o desfile das agremiações. O problema
vai ser definir aonde será construído esse monumento ao fim das nossas
tradicionais quadrilhas de rua. Na briga estão Caruaru e Campina Grande que disputam o título
de cidade com o melhor, o maior e mais outras qualificações do São João do Nordeste, do Brasil e do mundo.
Carlos Dantas
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