quarta-feira, 20 de junho de 2012

Quadrilhas de São João - Crônica escrita em junho de 2002


Há exatos dez anos escrevi essa crônica que era lida em um programa da Rádio Universitária AM.

Quadrilhas de São João

          O dia de São João, a 24 de junho, é o auge dos festejos juninos, expressão máxima das manifestações folclóricas e populares do Nordeste. A reverência religiosa foi sem dúvida o grande motivo para a origem dos festejos, porém essa tradição enfraqueceu-se com o passar dos tempos. O capitalismo se encarregou de dar novas cores, novos formatos, e o que é pior novos objetivos às festas juninas.
               Se antes o consumo de milho e seus derivados eram comuns por ser esta a época da colheita, hoje o consumo é orientado pelas peças publicitárias. Se o milho for a moda , coma-se milho, se for outra coisa... Será assim.
              Se antes se dançava quadrilha por pura diversão e socialização de seus integrantes, com trajes rotos ou com remendos costurados por cima da roupa, com um trio pé de serra tocando, hoje o que se vê são as produções teatrais, coreografadas, luxuosas, quase cinematográficas com som mecânico, estéreo, e arranjos eletrônicos, alguns feitos especialmente para a apresentação do grupo que visa o título de quadrilha mais original , mais luxuosa, mais bonita, mais isso, mais aquilo e um prêmio em dinheiro.
               Se antes juntavam-se os amigos para formar a quadrilha e se ensaiava durante duas ou três semanas antes do São João, hoje se marcam ensaios e formação das quadrilhas com meses de antecedência e se contratam profissionais para cuidar do figurino, dos ensaios, do som, etc.
                  É comum ver, já em setembro do ano anterior, as quadrilhas começarem a se preparar para o São João do ano seguinte.
                Se antes os erros eram motivos de alegria e davam o tempero da brincadeira, com integrantes chegando de última hora e aumentando a quadrilha, hoje o erro é motivo de punição e até de expulsão do grupo.
              Os colégios, que antes estimulavam essas manifestações, hoje deixam a iniciativa aos próprios alunos. Se eles quiserem que se responsabilizem pela organização. Os professores só trabalham a quadrilha com os pequeninos da primeira a quarta série. Será isso suficiente para que as tradições permaneçam? Não, não é e podemos observar isso. 
               Alguma coisa está errada, e nada está sendo feito para evitar a deturpação dessa manifestação. Parece inclusive que os governantes que cuidam da cultura primam por comercializar o evento em forma de grande produção, de espetáculo para turista vir, ver e deixar um bocado de dinheiro, que aliás parece ser a única coisa que interessa.
               Se tudo der certo então, breve será construído um quadrilhódromo para o desfile das agremiações. O problema vai ser definir aonde será construído esse monumento ao fim das nossas tradicionais quadrilhas de rua. Na briga estão Caruaru e Campina Grande que disputam o título de cidade com o melhor, o maior e mais outras qualificações do São João do Nordeste, do Brasil e do mundo.


Carlos Dantas

Nenhum comentário: