domingo, 23 de março de 2008

Crônicas


Há 5 anos, em janeiro de 2003 estava começando a terceira edição do "big brother brasil" e eu aproveitei a ocasião para escrever sobre o assunto.


Minha Opinão janeiro 2003

bbb 3

Hoje a noite começa mais um campeão de audiência e de baixaria, e de mau gosto, e de indiscrição e, eu diria até, de estupidez. A terceira edição do big brother brasil, na Globo vem chegando com ares de novidade na sua divulgação, porém muito pouco de atrativo traz. A fórmula já está gasta e a luta pela audiência vai fazer com que dramas humanos e situações limite sejam colocados da forma mais sensacionalista possível para que as pessoas tenham prazer, ou pelo menos se interessem em assistir o programa. Analisando esses programas de realidade, percebe-se facilmente que o interesse das pessoas na verdade não é somente ver as pessoas trancadas numa casa com ou sem água, com ou sem comida, banho ou sexo. Claro que a curiosidade fica até atiçada, mas parece que há um fator que fala mais alto. Alto mas não o bastante para ouvirmos: é no inconsciente que são determinados esses processos de escolha. Freud explica. Nos últimos cem anos o cinema conseguiu revolucionar a nossa sociedade. Através dele conseguimos ver coisas nunca vistas, e às vezes nem pensadas. Bruxas, fantasmas, bombas caindo de aviões, explodindo casas, gente morrendo e matando em desastres espetaculares, viagens interplanetárias, seres de outros mundos, o passado e o futuro e tantas outras coisas que só mesmo o cinema em suas imagens ousadas e artificiais pode criar. Tanta ficção, tantos efeitos especiais e tanta edição de imagens são feitas para um filme, que por mais belo que ele seja, a distância entre a realidade e o filme é tão grande que nem conseguimos nos ver naquela situação. Em alguns casos isso é até bom...
Os shows de realidade vêm na contramão da história e do desenvolvimento tecnológico, trazendo o público para perto e até para dentro da cena. Até o tempo é real. As pessoas falam como nós. São, ou poderiam ser nossas conhecidas. Isso nos torna próximos e facilita a identificação. “ah, se fosse eu, fazia isso, dizia aquilo...” Não posso estar lá, mas posso participar. E essa participação torna a relação mais real ainda. Ela existe mesmo, pois sou eu quem decide quem entra e quem sai. No fundo todos querem ser donos de alguma coisa; todos querem poder mandar e controlar; todos querem ter poder. Numa época em que cada vez mais se pode menos; com cada vez mais gente no mundo para querer também e disputar a primazia do poder, um programa desses vem bem a calhar. Escolho, reclamo, xingo, lavo a alma tirando aquele participante que foi desonesto, agiu sem ética ou simplesmente eu achei antipático. Tudo isso é o show da realidade; uma válvula de escape que permite fazer com que a população sonhe e viva a mesma realidade. Uma novela sem final escrito que não só pode, como precisa de sua intervenção para chegar ao final. Agora, se o final vai ser feliz ou não, não sei, nem ninguém sabe. Nem se soubesse poderia dizer. Isso tiraria toda a graça.

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